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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Os contos de Acer - Capítulo 1 - Perdas

> Capítulo 1 - Perdas <

Acer calmamente levantou a mão e sentiu o calor vindo da linha de sangue que escorria em seu braço cansado. O nevoeiro da noite já havia passado e os primeiros sinais do sol apareciam ao horizonte. Estava com a roupa rasgada e sua humilde espada de mateira quebrada ao seu lado. Seu esforço inútil para salvar sua amada fora sobrepujado facilmente. Agora derrotado em frente a sua casa, sentia-se incapaz. A menina a quem prometera se casar fora levada. E nada mais poderia ser feito.

Virou se de bruços e sentiu o chão áspero roçar seu rosto dolorido. Demorou alguns instantes para reunir forças e erguer-se. Fitando a casa que um dia morou junto com Mahrin, sua amiga desde que havia sido abandonado e vindo morar nesta pequena vila. Mahrin era linda, alegre, amava as flores do jardim e assim como Acer, uma órfã.


Foram pegos de surpresa na noite anterior. Um enorme cavaleiro, com sua longa espada, veio buscar sua recompensa: A rainha para seu futuro Reino. Acer não sei entregou facilmente e lutou com o futuro rei. Agora, depois da batalha, de uma certa forma sentia-se sortudo por não ter sido fatiado em pedaços. Mas sua frustração estava no auge, seu maior tesouro fora-lhe tirado contra a sua vontade. Indignou-se ao ver sua espada partida ao meio. Quantas foram as vezes que empunhou tal frágil espada em frente a Mahrin jurando protege-la até a morte. Mas de nada havia adiantado. Seu maior medo havia tornado-se realidade.


Vislumbrou a cabana vizinha e arrastou-se em sua direção. Deveria comunicar imediatamente o sequestro de Mahrin a Byue, sua guardiã. Byue ficou tão chocada com o estado de Acer que imediatamente o pôs na cama para descansar. Byue, uma pequena senhora, idosa e maltratada pelo tempo, já estava vestida para trabalhar na pequena plantação de milho e arroz que tinha nos fundos de sua casa. Suas mãos calejadas mas com tremenda habilidade prontamente colocaram curativos em todos os cortes e feridas no corpo do menino. Acer tentou falar, mas estava tão cansado que sua voz se negou a sair e antes de cair no sono observou na triste expressão de Byue que ela já compreendera toda a situação.


Um longo dia de descanso foi o suficiente para Acer recuperar-se. Estava deitado em uma cama de palha, no centro da cabana. O cheiro forte de chá verde e o calor da fogueira o fizeram despertar. Acordou decidido e voltou-se para Byue e firmemente disse:

“Estou de partida”

Sua voz ecoou na pequena cabana. Byue que não havia trabalhado para cuidar do menino surpreendeu-se com o tom de sua voz e prontamente respondeu:

“Sua partida nada mais vai significar senão mais dor. Você não é páreo para com O Senhor Phork, o futuro rei.”

Ainda olhando para a porta sem sinal de duvida respondeu:

“Se minha força pode não ser igual ao do rei vou encontrar alguem que tenha essa força. Vou atrás de ajuda. Não vou deixar Mahrin nessa situação quando prometi sempre salvá-la.”

Byue, fixando o olhar em suas próprias mãos na inútil tentativa de achar coragem e impedi-lo de partir, falou. “Não há ninguém que possa ajudá-lo.”

Acer abriu a porta e no meio do caminho olhou para trás e contemplou a sinistra expressão de Byue.

“Vou achar o Mestre Dronas”

Imediatamente Byue começou a chorar. A agonia de perder uma filha já era o suficiente, mas agora perder também Acer era doloroso de mais.“Você não chegará vivo. A jornada é longa e dura. Pense no que você está fazendo. É impossível” Suplicou.

“Não posso ficar e simplesmente fazer nada. Minha alma não descansaria em paz.”

Partiu .


> Próximo capítulo – A ponte <

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